quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

A Educação de Crianças: sobre a imposição de regras e castigos

                                        Criança vê, criança faz.

      Apesar dos meios sociais terem adquirido um espaço maior do que desejado na fonte de transmissão de informações de conduta para crianças e adolescentes, é necessário termos ciência e compreensão de que é na família o devido lugar para a disseminação dos valores morais e dos padrões de conduta, ou seja, a promoção da educação infantil.
Além da responsabilidade e ciência dos pais de que são e sempre serão modelos e exemplos a serem seguidos pelos seus filhos, consequentemente existe também o dever de promover meios para que as crianças aprendam a se relacionar socialmente de forma adequada e respeitosa, apresentando hábitos adequados nas mais diversas situações cotidianas. Para isso, torna-se necessária a imposição de regras, que são imprescindíveis na educação de uma criança. Lembrem-se, a criança precisa ter o seu comportamento moldado, ensinado e espelhado por seus pais e educadores. Ela não nasce sabendo, e o descumprimento daquilo que acreditamos ser comportamentos adequados, serão sempre comuns.
Dúvidas frequentes dos pais e educadores são quais e como as regras devem ser estabelecidas, quais castigos devem ser usados frente às desobediências das regras e quais recompensas podem ou devem ser dadas com a efetivação e cumprimento das regras.
Então vamos lá! Partindo do recomendadíssimo livro “Pais Presentes, Pais Ausentes: regras e limites”, da autora Paula Inez Cunha Gomide, devemos ter em mente:
  • Deve-se buscar o estabelecimento de poucas regras, que sejam flexíveis e realmente possam ser cumpridas!!!
Exemplo:
“Se uma mãe deseja que o filho junte os brinquedos da sala, ela poderá iniciar o treinamento da seguinte forma: no princípio ela irá ajudá-lo mostrando como fazer, elogiando o seu desempenho e incentivando-o a colocar os brinquedos no lugar certo. Estes primeiros passos devem ser dados muito cedo, quando a criança ainda é pequena, entre dois ou três anos. A mãe deve pegar na mãozinha da criança e colocá-la sobre o brinquedo apreendendo-o. Neste momento a mãe deve dizer, sorrindo, que está contente, que ele (a) está indo muito bem. Gradualmente, a mãe deve deixar de ajudar a guardar os brinquedos, apenas orientando e elogiando o filho ao final da tarefa, até que o comportamento esteja bem estabelecido. Desta forma a criança aprende a regra, passo a passo, e se sente capaz de executar o pedido da mãe. Por outro lado, se a mãe diz ‘arrume seu quarto, junte os brinquedos, faça a tarefa, penteie os cabelos, corte as unhas’, etc., para uma criança que não executa nenhuma dessas atividades, a chance de fracasso é enorme” (GOMIDE, p. 14).

Os pais e educadores não devem estabelecer várias regras ao mesmo tempo, que sejam rígidas e difíceis de serem cumpridas. Quando isso ocorre, a criança ou adolescente sente-se saturado deixando de prestar a atenção, ignorando-as ou burlando-as. Nos casos em que as regras são difíceis de serem cumpridas, a chance de serem descumpridas é muito maior, assim como a sensação de fracasso tanto para os pais quanto para a criança/adolescente.
Deste modo, os pais estarão ensinando aos seus filhos que as regras podem ser descumpridas, assim como sua autoridade pode ser desrespeitada, levando os jovens a não aceitarem também as diversas outras normas e imposições sociais.
É comum que diante do desrespeito das regras surjam os castigos e as ameaças. Não entrarei no mérito das punições com violência física, justamente por considerar impróprio, inadequado e desnecessário (o assunto fica para outra oportunidade). Do mesmo modo, ressalta-se a mesma ineficácia e violência dos castigos com privação de necessidades básicas, como de alimento, sono ou carinho. Destaco que quando me refiro a castigos, referencio as estratégias para orientar o comportamento das crianças e adolescentes, sendo recomendado a retirada de “algum tipo de lazer” por um curto período de tempo. Sobre isso é necessário destacar:
  • Deve-se escolher um castigo possível de ser cumprido e, principalmente, que os pais consigam controlar.
Ou seja, caso os pais e educadores não tenham meios de controlar o descumprimento do castigo, ele não deve ser estabelecido! A ameaça é ineficaz e gera um relacionamento irritadiço e estressante entre pais e educadores com o educando. Frente a um comportamento indesejado, é importante destacar:
  • O castigo não deve ser aplicado após ter passado muito tempo.
É necessário que os pais e educadores ajam diante de um comportamento inadequado. É comum que por não saberem como agir os pais “deixem passar” determinada situação, seja por uma real dificuldade ou mesmo indisposição. Contudo, em um próximo e diferente comportamento inadequado, lembrar dessa anterior situação e aí então querer dar uma punição não terá o mesmo significado. As atitudes consideradas indesejáveis devem ser orientadas de forma imediata.
A falta de constância nas orientações e atribuições de castigos frente a uma atitude indesejável torna a educação e seus ensinamentos flexíveis e confusos, ocasionando uma incerteza e insegurança na criança ou adolescente daquilo que é certo ou errado, dos valores adequados e do que é respeito. As crianças e adolescentes que são educados com regras flexíveis e confusas tornam-se adolescentes ou adultos que não respeitam as regras na escola e demais instituições, não respeitando também os professores e demais autoridades. Além disso, aprendem a manipular emocionalmente para ter aquilo que querem, ou então, a serem agressivos frente às negações de seus desejos. Passam a enxergar tais atitudes transgressoras como fontes e formas de obter o que desejam.
Se os pais e educadores optarem por dar recompensas aos filhos quando cumprem uma regra estabelecida, lembrem-se, valores morais e éticos são deveres comuns e cotidianos. Os bens materiais não devem ser ensinados a serem recompensas frequentes, e sim em raros casos (isso pode se tornar uma prática insaciável!). No cumprimento de combinados e na efetivação de comportamentos adequados, o seu carinho, elogios e atenção devem ser a recompensa pelos comportamentos de seus filhos. Antes de tudo, está o seu bom senso entre aquilo que está exigindo como sendo um comportamento adequado e o seu próprio exemplo deste mesmo comportamento, que deve estar sempre a disposição a ser seguido pelos seus filhos e/ou educandos.


Referência:

GOMIDE, Paula Inez Cunha. Pais Presentes Pais Ausentes: regras e limites. Rio de Janeiro: Vozes, 2013.

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