As teorias psicanalíticas têm o mérito de ter insistido na importância das primeiras relações da criança enquanto experiências fundamentais no desenvolvimento do ser humano. Para compreender um pouco melhor os diferentes métodos e técnicas de se atuar na psicanálise com bebês, devemos refletir a respeito dos objetivos desta atuação. De acordo com Queiroz (2011), a psicanálise em geral não deve ter objetivos definidos, pois a finalidade e os resultados são imprecisos. Dentro deste contexto, de se considerar a subjetividade de cada caso e seus objetivos particulares, fala-se do objetivo da psicanálise com bebês ser o de prevenção.
O bebê é tanto um
evento novo como uma história antiga no contexto familiar, pois além de trazer
características peculiares a ele e se inserir na relação com seus pais, ele
encontra nessa relação antigos temas, conflitos e necessidades que muitas vezes
não estão resolvidas e são revividas pela
família. Os atendimentos na
clínica psicanalítica com bebês e seus pais possuem três características que
lhe são específicas: são atendimentos breves, focais e o paciente não é o bebê, mas sim, a relação dos pais com seu bebê.
O foco deve ser determinado e relacionado com as necessidades que o bebê
apresenta. A brevidade do trabalho se justifica porque essas necessidades são
urgentes – o desenvolvimento é contínuo e acelerado e não pode parar esperando
pela resolução de problemas (FARIAS, 2007).
Deve-se ter em mente que a psicanálise não é
só da fala, é também da escuta e é nesse sentido que a clínica com bebês se faz
possível. Na clínica com crianças o psicólogo escuta, ou melhor, lê seus desenhos e brincadeiras, com adultos busca a captura dos escritos do inconsciente que se
apresentam na fala, e com o bebê trabalha na leitura das inscrições do Outro (os
cuidadores primários) em seu
corpo, este sendo o campo da escuta analítica nesta clínica peculiar (RIANNI,
2011).
Entre as
possibilidades de atuação em Psicanálise de bebês na contemporaneidade, destaca-se o trabalho iniciado por Winnicott e Bion, que ao incluir que devaneios,
fantasias e identificações projetivas na relação da mãe com o bebê eram
importantes para o estudo do desenvolvimento da vida psíquica, da
psicopatologia e das perturbações do vínculo na criança, deram espaço para um
início de uma psicoterapia voltada para
a relação entre pais e bebê (FARIAS, 2007).
Pinto (2004), afirma
que a interação entre pais e bebê relaciona-se estreitamente com a
representação que os pais têm sobre a criança, e disso resultam diferentes representações tanto para o pai quanto para a mãe, pois cada um teve seu filho em um momento de sua história e atribuem a esse
bebê significados específicos. Klaus e Kennel (1993) ressaltam que há muita
importância no laço entre pais e
bebês, pois esse relacionamento entre eles é formativo, já que a criança desenvolve um sentido para ela mesma devido a uma
auto-imagem que seja segura e apropriada. Sendo assim, o apego com os pais irá influenciar, por toda a vida desse indivíduo,
as características dos laços desenvolvidos com outros indivíduos no futuro.
Dessa forma esse vínculo entre os pais e seu bebê transcende o interesse em
apenas alimentar, trocar ou tomar conta, mas envolve também o cuidado e o
colocar-se no lugar do bebê, ter percepções acerca de suas necessidades tanto
físicas quanto emocionais.
Um dos motivos comuns para se buscar um psicólogo nessa idade é o
transtorno da depressão pós-parto, sendo um exemplo de como
os três pressupostos do atendimento aos pais e seu bebê compreendem uma forma específica
e eficaz de trabalho. Algumas perturbações psíquicas da mãe (ou do cuidador primário) podem repercutir de
forma direta no desenvolvimento da criança, dessa forma, a noção de
funcionamento psíquico compartilhado ganha grande importância, pois uma
aproximação seguida de um distanciamento da mãe, para o bebê pode causar o
aparecimento de transtornos graves no que se refere a contatos interpessoais e
nos relacionamentos afetivos futuros (FARIAS, 2007).
Farias (2007) afirma
que três questões envolvem-se diretamente com a depressão pós-parto. Uma delas
refere-se ao que as mães pensam sobre a depressão pós-parto, pois muitas vezes
elas podem queixar-se de dor, cansaço, falta de leite ou outros problemas de
ordem física, mas nunca podem queixar-se de depressão, há nesse sentido uma
associação com a imagem de uma “mãe má”, que não é socialmente aceita. Uma
segunda questão citada pela autora é o fato de os profissionais que cuidam
dessas questões prestarem muita atenção nos sintomas do bebê, no desamparo, no
desinteresse da mãe, mas não olham para a mãe como deprimida e sim como
rejeitante, e dessa forma, não há uma compreensão do problema, restringindo assim a terapêutica. A terceira questão diz respeito ao formato do
atendimento psicoterapêutico dessa depressão: individual ou conjunto. O
atendimento conjunto é o mais indicado, pois pode tratar simultaneamente a
perturbação da mãe e também o vínculo mãe-filho; a presença física do bebê é
fundamental, os olhares, os toques, a escuta e outros elementos podem ajudar com que se estabeleça e se fortifique o vínculo da mãe
com seu filho, pois o vínculo é o objetivo principal desses atendimentos
(FARIAS, 2007).
Referências
FARIAS,
E. P. A Clínica psicanalítica com o bebê
seus pais. In: CORREA, Olga. (org) Grupo familiar e Psicanálise:
ressonâncias clínicas. São Paulo: Vetor, 2007.
KLAUS
M. & KENNEL, J. Pais/bebê – a formação do apego. Porto Alegre: ArtMed, 1993.
PINTO,
E. B. Os sintomas psicofuncionais e as
consultas terapêuticas pais/bebê. Estudos de Psicologia, 9, 3, 451-457,
2004.
QUEIROZ,
T. C. N. A Técnica Psicanalítica com os
bebês. Disponível em:
http://www.escolafreudianajp.org/arquivos/trabalhos/A_tecnica_psicanalitica_com_bebes.pdf
Acesso em 16/10/2011.
RIANI, A. C.
P. R. A psicanálise na clínica com bebês.
Sociedade de Estudos Psicanalíticos de Juiz de Fora, 2011. Disponível em:
http://psicanaliseebarroco.pro.br/dados/obras/psicanalise%20na%20clinica%20com%20bebes.doc
acesso em 15/10/2011.
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